A principal autoridade de segurança do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, negou nesta sexta-feira (21) que tenha concordado com o esboço de um plano de paz do governo Trump, depois que autoridades norte-americanas disseram que ele havia aceitado a maioria de seus termos.
Washington apresentou a Kiev um plano de 28 pontos que endossaria muitas das principais demandas da Rússia, exigindo que Kiev abra mão de mais território, reduza o tamanho de suas Forças Armadas e abandone para sempre a esperança de se juntar à aliança ocidental da Otan.
Autoridades norte-americanas disseram que o plano foi elaborado após consultas com Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, que foi ministro da Defesa até julho e é um aliado próximo do presidente Zelenskiy.
"Este plano foi elaborado imediatamente após discussões com um dos membros mais graduados da administração do presidente Zelenskiy, Rustem Umerov, que concordou com a maior parte do plano, depois de fazer várias modificações, e o apresentou ao presidente Zelenskiy", afirmou uma autoridade sênior dos EUA na quinta-feira.
Mas Umerov disse na sexta-feira que não havia discutido os termos do plano, muito menos os aprovado.
"Durante minha visita aos Estados Unidos, meu papel foi técnico -- organizar reuniões e preparar o diálogo. Não fiz nenhuma avaliação ou, muito menos, aprovação de nenhum ponto. Isso não está dentro de minha autoridade e não corresponde ao procedimento", escreveu ele no Telegram.
Zelenskiy, que se reuniu com uma delegação do Exército norte-americano na quinta-feira, reconheceu ter recebido o plano, mas não comentou diretamente sobre seu conteúdo.
"Nossas equipes -- Ucrânia e EUA -- trabalharão nos pontos do plano para acabar com a guerra", escreveu o presidente durante a noite no Telegram. "Estamos prontos para um trabalho construtivo, honesto e rápido."
O Kremlin, que até agora tem sido cauteloso em público, disse que ainda não havia sido informado de que Kiev estava preparada para negociar o plano.
Plano
O plano, cuja cópia foi analisada pela Reuters, inclui termos que as autoridades ucranianas já haviam descartado anteriormente como equivalentes à rendição, depois que seus soldados se defenderam de uma invasão russa em grande escala por quase quatro anos a um custo enorme.
Isso exigiria que a Ucrânia se retirasse do território que ainda controla nas províncias do leste que a Rússia alega ter anexado, enquanto a Rússia abriria mão de quantidades menores de terras que capturou em outras regiões.
A Ucrânia seria permanentemente impedida de participar da Otan, e suas Forças Armadas seriam limitadas a 600.000 soldados. A Otan concordaria em nunca enviar tropas para lá.
Sanções contra a Rússia seriam gradualmente suspensas, Moscou seria convidada a voltar ao grupo G8 de países industrializados e os ativos russos congelados seriam reunidos em um fundo de investimento, com Washington recebendo parte dos lucros.
No entanto, embora o plano descreva muitos dos elementos há muito buscados pela Rússia em detalhes consideráveis, ele também aborda alguns dos principais objetivos da Ucrânia, embora principalmente em termos mais vagos.
Uma das principais demandas da Ucrânia, por garantias de segurança executáveis equivalentes à cláusula de defesa mútua da aliança da Otan para impedir que a Rússia ataque novamente, é tratada em uma única linha, sem detalhes: "A Ucrânia receberá garantias robustas de segurança".
Países europeus, que agora estão financiando sozinhos a defesa da Ucrânia depois que o presidente Donald Trump cancelou o apoio financeiro dos Estados Unidos, foram excluídos da elaboração do plano. Espera-se que uma delegação norte-americana em Kiev informe as embaixadas europeias sobre seu conteúdo ainda na sexta-feira.
"Quanto ao plano de paz que entendemos ter sido apresentado ao presidente Zelenskiy, sempre dissemos que, para que qualquer plano funcione, ele precisa ter a Ucrânia e os europeus a bordo", declarou a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, em Bruxelas.
*É proibida a reprodução deste conteúdo.